quinta-feira, 10 de maio de 2012

CARLOTA DE GALES/ARTIGO

À medida que Carlota entrava na adolescência, os membros da corte começaram a achar o seu comportamento pouco digno.[34] Lady de Clifford queixava-se por Carlota mostrar a sua roupa interior, que chegava aos tornozelos, por baixo do vestido.[35] Lady Charlotte Bury, uma dama-de-companhia de Carolina e diarista cujos relatos escritos sobreviveram até hoje, descreveu a princesa como "uma bela rapariga" que tinha modos cândidos e raramente "se mostrava digna".[36] O seu pai orgulhava-se do seu talento para montar.[37] A princesa gostava de Mozart e Haydn e identifica-se muito com a personagem Marianne do livro "Sensibilidade e Bom Senso" de Jane Austen.[38] Em finais de 1810, a loucura do rei Jorge III começou a piorar. Carlota e o avô gostavam muito um do outro e a princesa ficou muito afectada com a sua doença. A 6 de Fevereiro de 1811, o pai de Carlota foi nomeado príncipe-regente perante o Conselho Privado,[39] ao mesmo tempo que Carlota cavalgava para trás e para a frente nos jardins de Carlton House, tentando ter um vislumbre da cerimónia através de uma das janelas do primeiro andar.[40] Carlota defendia o partido liberal, tal como o seu pai tinha sido. Contudo, agora que estava a começar a exercer os seus poderes, Jorge não chamou os liberais ao poder, como muitos tinham esperado. Carlota ficou furiosa e considerou a atitude do pai uma traição, mostrando a sua indignação na ópera quando atirou beijos na direcção do líder liberar, Charles Grey, 2.º conde de Grey.[41] Jorge tinha sido educado num ambiente rigoroso contra o qual se tinha revoltado. Apesar disso, tentou colocar a filha, que já tinha a aparência de uma mulher adulta aos quinze anos, em condições ainda mais rigorosas. Deu-lhe menos dinheiro para comprar roupa do que o necessário para uma princesa adulta e insistiu que, quando ela fosse à ópera, devia sentar-se na parte de trás do camarim e sair antes de o espectáculo acabar.[42] Com o príncipe regente ocupado com assuntos de estado, Carlota tinha de passar grande parte do tempo em Windsor com as suas tias solteiras. Aborrecida, Carlota começou a apaixonar-se pelo seu primo, George FitzClarence, filho ilegítimo do seu tio, o duque de Clarence. Pouco depois, George foi chamado para Brighton para se juntar ao seu regimento, e a atenção de Carlota virou-se para o tenente Charles Hesse, dos Dragões Brilhantes, que supostamente seria filho ilegítimo de outro tio de Carlota, Frederico, Duque de Iorque.[43] Charles e Carlota encontraram-se clandestinamente várias vezes. Lady de Clifford temia que o príncipe regente ficasse fora de si quando descobrisse, mas a princesa Carolina ficou encantada por ver a filha apaixonada. Fez tudo o que pôde para encorajar a relação, chegando mesmo a permitir que os dois estivessem sozinhos num quarto dos seus apartamentos.[44] Estes encontros acabaram quando Charles se juntou às forças britânicas em Espanha.[45] A maioria da família real, com excepção do príncipe regente, sabia destes encontros, mas não fez nada para interferir, já que não concordavam com a forma como Jorge tratava a sua filha.[46] Em 1813, quando o rumo das Guerras Napoleónicas começou a mostrar-se, finalmente, mais favorável para a Grã-Bretanha, Jorge começou a considerar seriamente a questão do casamento de Carlota. O príncipe-regente e os seus conselheiros decidiram que o melhor candidato era o príncipe-herdeiro Guilherme de Orange, filho e herdeiro do príncipe Guilherme V de Orange. Tal casamento aumentaria a influência da Grã-Bretanha no noroeste europeu. Guilherme não impressionou Carlota quando os dois se conheceram na festa de aniversário de Jorge, celebrada a 12 de Agosto desse ano, na qual o príncipe holandês ficou bêbado na companhia do próprio príncipe-regente e de vários outros convidados. Apesar de ninguém ter falado oficialmente com Carlota sobre os planos de casamento, a princesa sabia deles através de rumores que corriam pelo palácio.[47] O doutor Henry Halford, foi encarregue de perguntar a Carlota o que ela achava sobre o casamento, mas achou-a relutante e a princesa afirmou que a futura rainha de Inglaterra não devia casar-se com um estrangeiro.[48] Acreditando que a sua filha tinha a intenção de se casar com Guilherme, duque de Gloucester, o príncipe-regente abusou verbalmente dos dois. Segundo Carlota, "ele falou como se tivesse as ideias mais impróprias em relação às minhas inclinações. Vejo que está completamente envenenado contra mim e que nunca vai mudar de ideias."[49] Escreveu ao conde de Grey, pedindo-lhe conselhos e ele sugeriu-lhe que fosse adiando o assunto o maior tempo possível.[50] O assunto não demorou a surgir nos jornais que se questionavam se Carlota se iria casar com "o Orange ou com o Queijo" (uma referência ao queijo de Gloucester), o "Billy Magricelas" de Orange ou o "Billy Tolo".[51] O príncipe-regente tentou abordar a filha mais gentilmente, mas não conseguiu convencê-la e Carlota escreveu que "nunca poderia deixar este país, e como rainha de Inglaterra ainda menos", e que, se eles se casassem, o príncipe de Orange teria de "visitar os seus sapos sozinho".[52] Contudo, no dia 12 de Dezembro, o príncipe-regente fez com que Carlota e o príncipe de Orange se encontrassem durante um jantar e pediu-lhe uma resposta a Carlota. A princesa disse que tinha gostado do que tinha visto até à altura e Jorge pensou que isso significava que a filha aceitava o casamento, por isso chamou rapidamente o príncipe de Orange para o informar.[53] O príncipe Guilherme de Orange. As negociações para o contrato de casamento arrastaram-se durante vários meses porque Carlota insistia que não queria deixar a Grã-Bretanha. Os diplomatas não desejavam ver estes dois tronos unidos, e por isso o acordo determinava que o trono britânico iria para o filho mais velho do casal, enquanto que o segundo filho iria herdar o trono holandês. Se houvesse apenas um filho, os Países Baixos passariam a ser reinados pelo ramo alemão da Casa de Orange.[54] A 10 de Junho de 1814, Carlota assinou o contrato de casamento.[55] Carlota ficou enamorada de um príncipe prussiano cuja identidade não é certa. Segundo Charles Greville, tratava-se do príncipe Augusto da Prússia,[56] mas o historiador Arthur Aspinall discorda e pensa que faria mais sentido que a princesa estivesse apaixonada pelo príncipe Frederico da Prússia, que era mais novo.[57] Numa festa realizada no Hotel Pulteney em Londres, Carlota conheceu o tenente-general da cavalaria russa, o príncipe Leopoldo de Saxe-Coburgo-Saalfeld.[58] A princesa convidou Leopoldo a visitá-la, um convite que o príncipe aceitou, tendo passado três quartos de hora com Carlota. Depois escreveu uma carta ao príncipe-regente, onde pedia desculpa se tinha cometido alguma indiscrição. A carta deixou Jorge muito impressionado, apesar de nunca ter considerado Leopoldo como possível pretendente para a sua filha devido ao seu rendimento reduzido.[59] A mãe de Carlota opôs-se ao casamento da filha com o príncipe de Orange e tinha o apoio do público: sempre que Carlota aparecia em publico, as multidões pediam-lhe que não abandonasse a mãe ao casar-se com o príncipe de Orange. A princesa informou o príncipe de Orange que, caso se casassem, a mãe dela teria de ser bem-vinda na sua casa, uma condição que iria certamente desagradar o príncipe-regente. Quando o príncipe de Orange não concordou, Carlota rompeu o noivado.[60] A resposta do seu pai foi ordenar que Carlota não saísse de Warwick House, ao lado de Carlton House, até ser enviada para Cranbourne Lodge, em Windsor, onde não teria permissão para ver mais ninguém além da avó. Quando soube disto, Carlota correu para a rua. Um homem, ao vê-la tão perturbada da sua janela, ajudou a princesa, que não tinha experiência no mundo exterior, a encontrar uma carroça que a levou para casa da sua mãe. Carolina estava a visitar amigas, mas voltou rapidamente para casa quando soube o que tinha acontecido, ao mesmo tempo que Carlota chamava políticos liberais para a aconselharem. Um grande número de familiares também se juntou a ela, incluindo o seu tio, o príncipe Frederico, duque de Iorque, que trazia um mandato no bolso para assegurar que ela regressava se tal fosse necessário. Depois de uma longa discussão, os liberais acharam que seria melhor se Carlota voltasse a casa do pai, o que ela fez no dia seguinte.[61] Isolamento e corte

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