sábado, 19 de maio de 2012

ESCULTURA ETRUSCA


Escultura etrusca Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Ir para: navegação, pesquisa Frontão de Talamon, terracota, Luni A escultura etrusca foi uma das mais importantes expressões artísticas dos etruscos, um povo que habitou a região centro-norte da Itália aproximadamente entre os séculos IX e I a.C. Sua arte foi em grande parte uma derivação da arte grega, mas teve um desenvolvimento com muitas características únicas.[1] Dada a ausência quase total de documentos textuais etruscos, problema agravado pela ignorância moderna sobre sua língua, ainda largamente indecifrada, é na arte onde se encontram pistas para a reconstituição de sua história, no que as crônicas gregas e romanas sobre eles são de grande auxílio. Assim como a sua cultura em geral, a escultura etrusca possui muitos aspectos desafiadores para os estudiosos modernos, sendo objeto de acesa polêmica e obrigando-os a proporem suas interpretações sempre em caráter provisório, mas é consenso que faz parte do mais importante e original legado artístico italiano antes do surgimento do Império Romano, tendo inclusive contribuído significativamente para a formação inicial das tradições artísticas da Roma Antiga.[2][3] Índice Visão geral Ver artigo principal: Etruscos, Arte etrusca, Escultura da Grécia Antiga A origem dos etruscos, que chamavam a si mesmos de Rasenna, tem sido objeto de polêmica desde a Antiguidade. Heródoto acreditava que eles eram a descendência de populações vindas da Anatólia antes de 800 a.C., deslocando habitantes anteriores, mas Dionísio de Halicarnasso os tinha como autóctones. A pesquisa moderna também não chegou a um consenso, e os especialistas acabaram considerando esse tópico insolúvel, passando a estudar como sua sociedade se organizou antes do que de onde vieram. O que se sabe com certeza é que por volta de meados do século VII a.C. suas principais cidades já haviam sido fundadas, iniciando em seguida um período de expansão territorial que acabou por fazê-los dominar uma grande região mais ou menos no centro da península itálica, que ia da Venétia e Lombardia até o Lácio e a Campânia. Entretanto, nos séculos seguintes suas conquistas foram ameaçadas e vários povos itálicos conseguiram fazê-los recuar. Enfim, seus derradeiros baluartes foram tomados pelos romanos, que absorveram sua cultura e causaram sua dissolução. Em seu apogeu os etruscos foram o povo mais poderoso da Itália pré-romana e estabeleceram uma próspera civilização, com grande produção agrícola, uma poderosa frota, um comércio florescente que abrangia boa parte do Mediterrâneo, e uma cultura original, onde a arte tinha um papel de destaque e foi também de grande influência para a formação inicial da arte da Roma Antiga.[4] [3] Sua presença na Itália é sugerida desde o século IX a.C., mas as inscrições em monumentos e artefatos que possibilitam uma datação segura só aparecem em torno de 700 a.C. Apesar de compartilharem uma cultura comum, os etruscos não formavam uma unidade política consistente, e sua organização social era semelhante ao sistema da pólis grega, ainda que guerreassem entre si muito menos do que os gregos. Não sobrevivem textos literários etruscos, sua história só pode ser recuperada de forma direta da evidência arqueológica, mas muito do que se sabe sobre eles foi relatado pelos gregos e romanos. Mantiveram contato com a Grécia possivelmente desde suas origens, mas ele se intensificou quando os gregos lançaram suas primeiras colônias no sul da península, em torno de 775-750 a.C. Adotaram um alfabeto similar ao grego e parte de sua mitologia, e importaram artefatos gregos em larga escala, especialmente cerâmicas, e através deles também objetos orientais, cujas relíquias encontradas em território etrusco são uma das fontes para determinar a cronologia de sua história.[4][1] De fato, a influência grega se tornou tão importante que a nomenclatura da história da arte etrusca é um reflexo da usada para descrever os períodos correspondentes da arte grega, da seguinte forma: Período Villanova ou Geométrico: séculos IX-VIII a.C. Período Orientalizante: século VII a.C. Período Arcaico: século VI-meados dos século V a.C. Período Clássico: meados do século V-século IV a.C. Período Helenista: séculos III-I a.C.[4] Mesmo com tão massiva assimilação de cultura estrangeira, é significativo que tanto gregos como depois deles os romanos consideravam os etruscos um povo perfeitamente individualizado. O estudo de sua cultura iniciou no Renascimento, e do século XIX em diante se aprofundou, mas os historiadores mais antigos muitas vezes condenaram a escultura etrusca vendo nela uma simples imitação sem criatividade da arte grega. Essa posição vem mudando em anos recentes, e hoje ela é considerada em boa medida um fenômeno original. De qualquer forma, a distinção entre as esculturas gregas encontradas na Etrúria e as etruscas propriamente ditas ainda muitas vezes é bastante difícil para a crítica moderna. Influências fenícias, romanas, egípcias e orientais, junto com a perda de grande parte de sua produção escultórica mais relevante, tornam o problema ainda mais complicado.[1][5] Mas é preciso advertir que analisar a escultura etrusca em comparação à dos seus vizinhos, especialmente os gregos, pode dar margem a estimativas de valor e de significado tendenciosas que impedem apreciá-la por seus valores intrínsecos e típicos, já que historicamente a escultura grega, especialmente a do período clássico, foi muitas vezes considerada o modelo ideal da escultura do Ocidente, opinião que ainda hoje repercute nos estudos e na visão popular. As comparações, enfim, podem ter um valor no sentido de viabilizar a identificação mais eficiente da especificidade de cada cultura, já que de fato em muitos aspectos elas se aproximam. A realização de diversas escavações arqueológicas nos últimos anos em sítios encontrados intactos, e a restauração de várias obras capitais que haviam sido desfiguradas por intervenções espúrias no século XIX, têm trazido muita informação autêntica adicional para a compreensão de pontos obscuros desse tema.[2][5] Aspecto do interior da Tumba dos Relevos, Cerveteri. Helenista Urna cinerária, terracota, Chiusi. Arcaica Uma das características distintivas da escultura etrusca é que ela servia primariamente à decoração privada e à religião. Em sua fase áurea os etruscos desenvolveram uma elite muito rica e altamente cultivada, amante da arte e do luxo, mas ao contrário de outros povos da Antiguidade, parecem não ter tido interesse em registrar através da arte sua própria história nem em exaltar as virtudes dos cidadãos. Tampouco criaram grandes obras de louvação dos deuses, nem desejaram adornar suas cidades com monumentos cívicos grandiosos que proclamassem a glória de sua civilização. Com isso também não surgiu a figura do artista criativo ou de escolas estilísticas reconhecidos por seu gênio individual, sendo uma arte anônima, coletiva, eclética e não-competitiva - conhecemos o nome de um único escultor etrusco, Vulca, que trabalhou em Roma e ali se tornou famoso. Foi, desse modo, essencialmente utilitária, quando religiosa, e decorativa, quando privada. Sua profunda crença numa vida após a morte fê-los desenvolver um complexo sistema de práticas fúnebres cujo objetivo era antes de tudo prover o morto de conforto em sua morada sepulcral do que agradar aos deuses, enchendo-a de objetos que se destinavam a facilitar sua vida futura. A partir do período Arcaico projetaram as tumbas como se fossem verdadeiras casas para os mortos, hábito que se perpetuou até que sua cultura imergiu na romana, mas variando em suas características de acordo com a época, a região e a classe social do morto. Em determinadas fases as tumbas dos personagens mais importantes podiam ser extraordinariamente ricas.[2][6] A religião também determinou a preferência por certas tipologias escultóricas presentes nas tumbas, como ex-votos e estatuetas de deuses - com destaque para as figuras da Mãe, do Pai e da Filha divinos, identificados com vários deuses locais - além das figuras dos mortos esculpidos sobre as urnas cinerárias e os sarcófagos. A estatuária ligada aos contextos fúnebres é de longe a mais abundante na produção etrusca.[7][2] Outras tipologias também foram importantes, outra vez associadas à religião, como a do casal abraçado, e várias estatuetas, amuletos e relevos mostram imagens de forte colorido sexual, usadas em uma ampla variedade de práticas rituais apotropaicas. Também apareciam com frequência cenas de sacrifício humano, muitas vezes com detalhes realistas chocantes, sendo especialmente comum o episódio do sacrifício de Ifigênia. As imagens possivelmente não refletiam sacrifícios reais, mas os substituíam simbolicamente. Outra temática recorrente é a figuração dos vários mitos locais e gregos, privilegiando acima de todas as cenas de batalha mais violentas. Mas enquanto os gregos criaram numerosas imagens de deuses, e deificaram até mesmo virtudes abstratas, os etruscos os abordaram muito mais reticentes, havendo diversos deles de quem não se conhece nenhuma representação local.[8][6] A respeito da nudez na escultura, os etruscos tinham opiniões bem distintas dos gregos. Enquanto que estes a favoreciam amplamente, aqueles a evitavam, sendo raras as ocorrências, mas inovaram ao criar o tipo da mãe amamentando com o seio à mostra, inédito na arte grega, que com o advento do Cristianismo seria um antecessor direto da formulação de uma variação da fértil tipologia da Madonna, a Virgo lactans.[9] No que tange aos seus cânones estilísticos, segundo Cunningham & Reich os etruscos não estavam, como os gregos, preocupados com elucubrações profundas a respeito de sistemas de proporção, com associações entre arte e ética, ou com o entendimento de como o corpo humano funciona numa representação artística, e sua atenção se voltava mais para o impacto imediato das figuras.[10] Prova-o a existência de inumeráveis figuras distorcidas, esquemáticas ou desproporcionadas, muitas vezes com acabamento rudimentar, se aproximando do caráter da caricatura, enfatizando os traços individuais sem qualquer idealismo. No caso dos grupos decorativos das fachadas dos templos e em alguns edifícios privados, sua composição não era um complemento lógico da forma do edifício, e sim um adendo decorativo livre, independente da coerência arquitetural. Esses grandes grupos são o mais típico e original gênero de escultura etrusca monumental.[2] Por fim seja assinalado que a visão da escultura etrusca como um todo homogêneo é errônea. Houve significativas variações regionais e ao longo das suas sucessivas fases, e aqui ela é descrita em linhas muito gerais.[11] Os períodos Villanova Vaso com figurinhas, bronze, Vulci ou Bisenzio Estatuetas, bronze, Villanova/Orientalizante O período Villanova, às vezes chamado de período Geométrico, foi o prelúdio da formação da civilização etrusca. Seu nome é o mesmo de um sítio arqueológico importante, Villanova, descoberto no século XIX. O período foi marcado pela expansão e refinamento da metalurgia, e por uma arte que empregava frequentemente motivos geométricos simples organizados em padrões complexos, herdados da cultura anterior a viver naquele local, e em parte dos gregos, e que permaneceriam visíveis na arte etrusca mais ou menos até os tempos históricos. A tradição local precedente parece ter influenciado um costume de agregar pequenos elementos escultóricos aos vasos e urnas cinerárias, enquanto que o elemento grego se manifestou na criação de diminutas figuras animais em bronze, que basicamente imitavam os desenhos encontrados nos vasos. Vulci foi provavelmente o primeiro centro a inaugurar uma tradição artística tipicamente etrusca, manifesta em vasos e caldeirões com pequenos grupos figurativos de homens e animais em suas coberturas, sendo aquelas as primeiras representações humanas na arte italiana. Mas nessa fase não se pode determinar se se referem a personagens mitológicos, que só podem ser identificados com alguma segurança a partir do fim desse período.[11][2] A produção artística Villanova parece ter sido abundante, mas restam poucas relíquias esculturais. Os objetos resgatados pelos arqueólogos foram encontrados em contextos fúnebres, em tumbas onde eram depositadas urnas cinerárias contendo objetos vários.[2] São de pequenas dimensões e em sua maioria compreendem utilitários de bronze, como arreios para cavalos, elmos, pontas de flechas e lanças, cantis e jóias, e outros cuja identificação é duvidosa, além dos vasos e caldeirões já citados. Muitos desses objetos são claramente de origem oriental, o que indica a existência de um ativo comércio com regiões distantes.[12] Também ocorrem estatuetas antropomórficas avulsas, altamente estilizadas, mas a despeito de suas formas esquemáticas seu efeito é de grande vivacidade.[13] Orientalizante No final do século VIII a.C. a quantidade de peças orientais encontradas nas tumbas se torna tão grande que todo o período foi denominado Orientalizante. É quando o comércio com os gregos se intensifica e os fenícios tamém se tornam grandes parceiros comerciais, aumentando a circulação de bens de uma grande variedade de procedências, a fim de atender aos desejos de uma elite que se organizava, enriquecia e se enobrecia. As maiores cidades da época, Vulci, Tarquinia, Cerveteri e Veii, se tornam os grandes centros comerciais, e o maior número de relíquias de escultura se encontraram novamente em tumbas subterrâneas. Nesse período as tumbas se tornaram maiores e mais complexas, com várias câmaras, corredores e um grande monte artificial por cima, e os enterramentos eram muitas vezes luxuosos, incluindo uma profusão de objetos decorativos e sacros. Descontando-se aqueles que são de origem obviamente asiática, os artefatos etruscos ainda são pouco distinguíveis dos gregos.[12] A decoração com motivos asiáticos como a folha de palmeira, a flor de lótus e o leão se torna então predominante, e são bons exemplos os braceletes e pendentes duplos com figuras de leão em marfim encontrados em Tivoli, e uma placa de prata em relevo representando a Senhora das Feras, de procedência incerta, e os grandes escudos de bronze que costumavam pendurar nas tumbas, especialmente os de Cerveteri, decorados com relevos em um estilo que lembra padrões geométricos da cultura Villanova, mas associando outros elementos orientais. Na cerâmica a novidade foi a imitação de formas até então reservadas ao bronze, adquirindo uma nova desenvoltura na modelagem de figuras de vulto completo e nos acessórios escultóricos dos vasos. São interessantes os pequenos vasos em forma de animais usados para armazenar perfumes, outros vasos com ornamentações complexas, os buccheri, que também podem ser incluídos na categoria de escultura, e as urnas canópicas com coberturas antropomórficas, que podiam ter grandes dimensões e ser entronizadas. Merece nota nessa fase o desenvolvimento da arte da joalheria, sobrevivendo exemplos ricamente ornamentados que podem ser vistos efetivam
ente como esculturas em miniatura.[1][11][12] Os mitos gregos já aparecem com frequência nas representações orientalizantes, mas é possível que eles tenham sido interpretados de acordo com tradições religiosas locais. Foi no período Orientalizante que surgiram as primeiras verdadeiras estátuas de culto etruscas, uma tipologia religiosa distinta das estatuetas votivas que já se viam na fase precedente. Algumas são identificáveis com facilidade a partir de seus modelos gregos, mas outras já são nítidas adaptações locais, requerendo interpretações críticas para sua identificação. Como exemplo estão estatuetas de um deus lançando raios, que sugerem se tratar de Zeus, mas no caso etrusco as figuras são jovens e sem barba, o que se complica quando sabemos, conforme relatou Plínio, que na religião etrusca nada menos de nove deuses tinham o atributo do raio.[13][14] No final do período sua produção artística havia já conseguido formular uma estética que superava de forma consciente a mera imitação de modelos estrangeiros, e sua habilidade com os metais preciosos e com o bronze se tornara conhecida além de suas fronteiras.[11]

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