sexta-feira, 18 de maio de 2012

TOMÁS,O ESLAVO

Tomás, o Eslavo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Ir para: navegação, pesquisa Tomás, o Eslavo Ilustração na crónica de João Skylitzes, na versão conhecida como Skylitzes de Madrid, mostrando Tomás a cavalo, vestido como imperador, a negociar com os árabes. A revolta de Tomás é um dos episódios mais ricamente ilustrados da crónica.[1] Nascimento ca. 760 Gaziura, região do Ponto Morte 823 (63 anos) Arcadiópolis, Trácia Nacionalidade Império Bizantino Etnia Eslavo ou Arménio Ocupação Comandante militar Principais trabalhos Spatharios (oficial do estado-maior) de Bardanes Tourkos Participação na rebelião e tentativa de usurpação de Bardanes (803) Comandante da tourma dos Foederati do thema dos Anatólicos Líder revoltoso e imperador autoproclamado (821) Cerco de Constantinopla Religião Cristianismo Tomás, o Eslavo (em grego: Θωμᾶς; ca. 760 – outubro de 823) foi um comandante militar do Império Bizantino que se notabilizou principalmente por liderar uma revolta em larga escala contra o imperador Miguel II, o Amoriano (r. 820—829) entre 820 e 823. Tomás era provavelmente de origem eslava da região do Ponto (atualmente o nordeste da Turquia), embora isso seja contradito por algumas fontes que o apresentam como arménio. Juntamente com os futuros imperadores Miguel II e Leão V, o Arménio (r. 813—820), ascendeu na carreira sob a proteção do general de origem arménia Bardanes Tourkos. Este rebelou-se em 803, chegando a autoproclamar-se imperador, mas a rebelião fracassou. Após isso, não se sabe o que aconteceu a Tomás, que só volta à ribalta quando Leão V sobe ao trono bizantino e lhe atribui um comando militar importante. Depois do assasinato de Leão por ordem de Miguel, o Amoriano, que usurpou o trono, Tomás revolta-se, reclamando o trono para ele. Tomás obtém rapidamente o apoio da maior parte dos themata (províncias militares) e tropas da Ásia Menor e alia-se ao Califado Abássida. Depois de tomar os themata marítimas e os seus navios, em 821 navega com o seu exército para cercar a Constantinopla. Miguel II pede ajuda ao líder imperador búlgaro Omurtag, cujas tropas atacam Tomás. Embora repelidos, os búlgaros infligem pesadas baixas nas tropas de Tomás, que bate em retirada quando Miguel passou ao ataque alguns meses mais tarde. Tomás refugiou-se em Arcadiópolis (atual Lüleburgaz), na Trácia, onde pouco depois foi cercado pelas tropas de Miguel e executado. A rebelião de Tomás foi uma das maiores da história bizantina, mas as circunstâncias em que ocorreu não são claras devido às contradições das narrativas históricas, que incluem relatos forjados por Miguel que distorcem os registos da revolta, para a qual, consequentemente, são apontados várias causas e motivações, que variam desde uma reação ao Iconoclasma até à ambição pessoal de Tomás e ao seu desejo de vingança pela morte de Leão V, passando por uma revolução social popular e uma revolta dos grupos étnicos não gregos do império.[1] Os efeitos da revolta no poderio militar do império também é um tema controverso. Índice Origens e início da carreira Embora seja conhecido como eslavo, a verdadeira origem étnica de Tomás não é clara. Segundo a crónica Theophanes Continuatus, ele era descendente de eslavos da Ásia Menor, ou seja, dos eslavos meridionais que foram forçados pelos bizantinos a abandonar os Balcãs e a fixar-se na Anatólia entre os séculos VI e VII. Já o cronista Genesius (século X) chama-lhe "Tomás do Lago Gouzourou, de raça arménia". Muitos académicos modernos defendem a ascendência eslava e acreditam que tenha nascido na cidade de Gaziura, no Ponto.[2][3][4][5] O epíteto "O Eslavo" só começou a ser usado nos tempos modernos.[6] Nada se sabe acerca da sua família e dos anos de juventude, exceto que os pais eram pobres e que não recebeu educação. Atendendo a que tinha entre 50 e 60 anos de idade quando se rebelou, provavelmente terá nascido cerca de 760.[1][7] Miniatura do "Skylitzes de Madrid" ilustrando a suposta fuga de Tomás para junto dos árabes Há dois relatos diferentes da vida de Tomás, ambos mencionados em Theophanes Continuatus e nas crónicas de Genesius. Numa das versões, Tomás aparece pela primeira vez em 803, acompanhando o general Bardanes Tourkos, e prossegue a carreira militar até lançar a sua revolta no início da década de 820. Noutra versão, Tomás é descrito como um jovem pobre que foi para Constantinopla e ali entrou ao serviço de um patrikios com um alto cargo na corte. Depois, tendo sido descoberto a tentar cometer adultério com a esposa do seu mestre, Tomás refugiou-se junto dos árabes na Síria, onde permaneceu durante 25 anos. Alegando ser o imperador assassinado Constantino VI (r. 780—797), liderou depois uma invasão da Ásia Menor patrocinada pelos árabes, mas foi derrotado e punido.[6][8][9] A segunda versão é explicitamente preferida por Genesius e no Theophanes Continuatus e é a única registada nas fontes do século IX, nomeadamente na crónica de Jorge Hamartolos (o Monge) na hagiografia A Vida dos Santos David, Simeão e Jorge de Lesbos. No entanto, o bizantinista francês Paul Lemerle considerou-a pouco fiável e produzida por Miguel II para desacreditar Tomás, uma interpretação que é seguida por muitos estudiosos modernos.[6][10][9] O historiador J. B. Bury tentou conciliar as duas narrativas colocando a fuga de Tomás para junto dos abássidas cerca de 788 e a sua volta ao serviço dos bizantinos antes de 803.[11] Segundo a primeira versão, Tomás serviu como spatharios (oficial do estado-maior) de Bardanes Tourkos, o monostrategos (comandante geral) dos themata orientais, que em 803 se rebelou contra o imperador Nicéforo I (r. 802—811). Tomás e outros dois spatharioi (oficiais) do séquito de Bardanes, Leão, o Arménio, o futuro Leão V, e Miguel, o Sírio, o futuro Miguel II. Segundo uma tradição hagiográfica posterior, antes de lançar a sua revolta, Bardanes, acompanhado dos seus três protegidos, teria visitado um monge perto de Filomélio que tinha a reputação de prever o futuro. O monge predisse o que iria acontecer de facto: que a revolta iria fracassar, que Leão e Miguel se tornariam ambos imperadores e que Tomás seria aclamado imperador e morto.[12][13][14] Bardanes fracassou na obtenção de apoio generalizado quando se revoltou. Leão e Miguel abandonaram-no rapidamente e desertaram para o campo imperial, sendo recompensados com postos militares importantes. Tomás continuou leal a Bardanes até este se render.[15][16] Não há menções históricas a Tomás nos dez anos seguintes à rendição de Bardanes.[17] Bury sugere que ele fugiu para junto dos árabes (pela segunda vez, de acordo com a sua interpretação),[18] uma perspectiva aceite por muitos outros historiadores, como Alexander Vasiliev e Romilly James Heald Jenkins.[1][19] No entanto, Warren Treadgold diz que Tomás permaneceu no Império Bizantino e pode inclusivamente ter permanecido ativo no exército, explicando a sua obscuridade pela associação de Tomás a Bardanes, que prejudicou a sua carreira.[20] Leão, o Arménio tornou-se imperador em julho de 813 como Leão V e apressou-se a recompensar os seus antigo companheiros dando-lhes o comando de unidades militares de elite. Miguel recebe a tagma dos Excubitores, um regimento de guarda profissional de cavalaria, e Tomás recebeu a tourma dos Foederati, uma divisão estacionada no thema dos Anatólicos.[17][20][21] Rebelião de Tomás Antecedentes e motivos No dia de Natal de 820, Leão foi morto na capela do palácio por oficiais mandados por Miguel, o Sírio, que se tornou imperador.[22] Quase simultaneamente, Tomás lançou uma rebelião no thema dos Anatólicos. As fontes dividem-se sobre os motivos e a cronologia exata da revolta. Segundo Jorge, o Monge, as fontes hagiográficas e uma carta enviada por Miguel II ao imperador do Ocidente Luís I, o Pio, Tomás sublevou-se antes da usurpação de Miguel. Esta cronologia é seguida por cronistas posteriores, como Genesius, Theophanes Continuatus e João Skylitzes, bem como alguns estudiosos modernos como John Bury e Alexander Kazhdan.[1][23][24] Paul Lemerle rejeita essa cronologia, considerando-a uma tentativa de Miguel para justificar a sua revolta como reação ao fracasso de Leão em suprimir a rebelião de Tomás e para se ilibar das primeiras derrotas sofridas pelas tropas imperiais.[25] Alguns estudos modernos seguem Lemerle e preferem o relato de Simeão Metafrastes — geralmente considerado a fonte mais precisa do século X — que escreveu que Tomás se rebelou em reação ao assassinato de Leão uns dias depois deste ter ocorrido.[1][26][27] Dois rivais lutaram por uma coroa, de que um deles se tinha apossado, mas não se podia dizer que a tivesse assegurado com firmeza. Miguel tinha sido eleito, aclamado e coroado na capital de forma regular, e tinha a vantagem de possuir a cidade imperial. [Tomás] tinha o apoio da maior parte das províncias asiáticas; só era um rebelde porque tinha fracassado. John Bury[11] O império ficou dividido numa guerra que tinha mais de disputa do trono por dois rivais ao mesmo nível do que de rebelião contra um governo estabelecido. Miguel tinha Constantinopla e as províncias europeias, controlava a máquina burocrática imperial e tinha sido devidamente coroado pelo Patriarca, mas tinha chegado ao trono através do assassinato do imperador anterior, enquanto Tomás ganhou o apoio e legitimidade através da sua reivindicação de vingança de Leão e teve o apoio militar dos themata, inicialmente das da Ásia e depois também das da Europa.[28] Tomás era uma figura muito conhecida, popular e respeitada na Ásia Menor, onde Leão V tinha gozado de apoio considerável. Miguel, por outro lado, era praticamente desconhecido fora da capital, a sua carreira militar não era notável, não era culto nem tinha boas maneiras, era ridicularizado por ser gago e tinha fama de simpatizar com a seita religiosa herética dos Athinganoi, à qual a sua família tinha pertencido.[29][30] O imperador Constantino VI, deposto e morto pela sua mãe Irene de Atenas em 797 As fontes bizantinas sobre a rebelião de Tomás relatam que de facto ele não reclamou o trono sob o seu próprio nome, mas assumiu a identidade do imperador Constantino VI (r. 780—797), que tinha sido deposto e morto pela sua mãe Irene de Atenas em 797.[31] Muitos estudiosos modernos seguem a tese de Lemerle, que rejeita esta história como sendo mais uma invenção posterior.[32][33] É possível que essa história se baseie no facto de Tomás ter escolhido ser coroado com o nome de Constantino, mas não há provas disso.[6] A possível apropriação da identidade de Constantino VI aparece ligada em algumas fontes à menção de rumores sobre o apoio de Tomás à adoração de ícones sagrados (Iconolatria), em oposição ao apoio de Miguel ao restauro da proibição do culto de imagens (Iconoclastia) — foi durante o reinado de Constantino VI que a veneração de ícones foi restaurada. No entanto, a linguagem ambígua das fontes, as simpatias iconoclastas em vários themata da Ásia Menor e a aliança de Tomás com os árabes parece contradizer um apoio aberto ao culto de imagens da sua parte.[33][34][35] Atendendo à atitude conciliatória de Miguel em relação à adoração de imagens durante os primeiros anos do seu reinado, a controvérsia iconoclasta não parece ter sido um assunto de grande importância nessa altura e provavelmente não teve um papel relevante na revolta de Tomás. A imagem de Tomás como paladino iconólatra, em oposição ao "iconoclasta" Miguel II que aparece em fontes posteriores foi provavelmente resultante das opiniões iconoclastas dos seus autores.[36] Warren Treadgold teorizou que a afirmação de Tomás de ser Constantino VI pode não ter sido mais que uma história posta a circular para ganhar apoio e que Tomás adotou uma "ambiguidade estudada" em relação aos ícones, planeada para atrair o apoio dos iconófilos. Nas palavras de Treadgold: «Tomás podia ser tudo para todos até ter conquistado todo o império, e depois teria tido tempo de desapontar alguns dos seus seguidores.»[37] Alguns historiadores, nomeadamente George Ostrogorsky, explicam o apoio generalizado que Tomás ganhou como uma expressão do descontentamento social entre as populações rurais, que sofriam com pesados impostos.[38][39] Outros, como Lemerle, rejeitam que isso tenha sido um fator primário durante a revolta.[40] Genesius e outros cronistas relatam que Tomás também recebeu o apoio de «agarenos, indianos, egípcios, assírios, medos, abecásios, ziches, iberos caucasianos, cabiros, eslavos, vândalos, getas, maniqueístas, lazes, alanos, cáldios, arménios e toda a espécie doutros povos.»[41][42] Isto está na origem de teses modernas de que a revolta de Tomás representou um levantamento dos grupos étnicos não gregos do império,[1][38] mas segundo Lemerle, o exagero desses registos é mais um caso de desinformação hostil forjada. Apesar de tudo, é quase certo que Tomás contou com o apoio dos vizinhos caucasianos do império, pois é mencionada a presença de abecásios, arménios e iberos no seu exército na quase contemporânea carta de Miguel II a Luís, o Pio. As razões para este aopio não são claras; Tomás pode ter feito promessas não especificadas, mas Lemerle escreve que os arménios podem ter sido motivados em parte por um desejo de vingança da morte do seu conterrâneo Leão.[43] Início e propagação da revolta na Ásia Menor Mapa dos themata da Ásia Menor e da Trácia em 842 Tropas de Tomás derrotam o exército imperial na Ásia Menor, numa gravura do "Skylitzes de Madrid" Como comandante dos Foederati, Tomás tinha a sua base em Amorion, a capital do thema Anatólico. Embora fosse subalterno do estratego (governador militar), Tomás recebeu o apoio generalizado por toda a Ásia Menor quando se proclamou imperador. Em pouco tempo, todos os themata asiáticas estavam do lado de Tomás, à exceção de duas: a Opsikion, comandada pelo patrício Katakylas, um sobrinho de Miguel II, e o Armeniakon (Armeniacos), comandada poe Olbianos. O thema Thrakesion hesitou entre os dois rivais, mas acabou por dar o seu apoio a Tomás. Mais de dois terços das tropas bizantinas da Anatólia alinharam com Tomás, ao mesmo tempo que a deserção dos funcionários provinciais dos impostos lhe garantiram as necessárias receitas.[44][45][46][47] A primeira resposta de Miguel foi ordenar aos armeniacos que atacassem Tomás. Os armeniacos foram facilmente vencidos em batalha e Tomás prosseguiu através das áreas orientais do thema armeniaca até ocupar a região fronteiriça da Cáldia.[48][49] A conquista da província de Armeniakon ficou incompleta porque os abássidas, aproveitando-se da guerra civil bizantina, lançaram raides por terra e por mar contra o sul da Ásia Menor, onde Tomás tinha deixado poucas tropas. Em vez de voltar atrás para fazer frente aos ataques árabes, Tomás lançou uma invasão em larga escala contra territórios abássidas na primavera de 821, na Síria segundo Bury e outros, ou na parte da Arménia controlada pelos árabes, segundo Treadgold.[47][50][51] Tomás enviou depois um emissário ao califa al-Mamun, que ficou suficientemente impressionado com a demonstração de força de Tomás para receber as suas propostas, especialmente devido aos problemas internos do Califado com a rebelião dos khurramitas liderados por Babak Khorramdin. Tomás e al-Mamun assinaram um tratado de paz e de aliança mútua. O califa autorizou Tomás a recrutar homens nos territórios controlados pelos árabes e a cruzar a fronteira para ir a Antioquia, uma possessão do califado, onde foi coroado imperador pelo iconófilo Patriarca de Antioquia Job. Em troca, Tomás terá prometido ceder territórios não especificados e tornar-se um vassalo tributário do califa, embora se desconheçam os termos exatos do acordo.[52][53][54] Sensivelmente ao mesmo tempo, Tomás adotou um jovem de origem obscura, a que chamou Constâncio e fê-lo seu co-imperador.[37] Conquista de uma cidade na Ásia Menor pelas tropas de Tomás, numa gravura do "Skylitzes de Madrid" Entretanto, Miguel II tentou obter o apoio entre os iconófilos nomeando um familiar seu como Arcebispo de Éfeso, mas o seu plano falhou quando este recusou ser consagrado pelo manifestamente iconoclasta António Kassymatas. Numa tentativa de consolidar o apoio dos dois themata asiáticas que ainda lhe eram fiéis, Miguel proclamou uma redução de 25% nos impostos em 821-822.[55] No verão de 821, Tomás tinha consolidado a sua posição no Oriente, apesar dos themata Opsikion e Armeniakon ainda não o reconhecerem. Começou então a preparar o derradeiro prémio: Constantinopla, a possessão que por si só conferia legitimidade total a um imperador. Tomás reuniu tropas e abastecimentos e construiu máquinas de cerco. Para contrabalançar a poderosa marinha imperial estacionada na capital, construiu novos navios para aumentar a sua frota, constituída pelos themata navais de Kibyrrhaioton e do Aigaion Pelagos e possivelmente também por forças navais do thema de Hellas.[56][57] Tomás convocou Gregório Pterotos, um general e sobrinho de Leão V que tinha sido exilado na ilha de Esquiro por Miguel, e deu-lhe o comando da sua marinha. Em outubro, as frotas dos themata leais a Tomás concentraram-se em Lesbos e o exército terrestre iniciou a marcha de Thrakesion para Abidos, onde planeavam cruzar o estreito do Helesponto para a Europa.[58][59]
[60] Foi então que Tomás sofreu o seu primeiro revés.

Nenhum comentário:

Postar um comentário